Pessoa despejando um medicamento líquido (xarope) de um frasco âmbar com rótulo branco em um copo dosador transparente.

O que você precisa saber sobre codeína xarope?

Muito usada para aliviar a tosse seca, a codeína xarope também pode trazer riscos quando mal administrada.


A codeína é um analgésico opioide amplamente utilizado para o alívio da dor moderada e, em formulações específicas, também como antitussígeno. Quando apresentada em forma de xarope, a substância pode ser prescrita isoladamente ou em combinação com outros ativos, especialmente para o tratamento de sintomas respiratórios como a tosse seca persistente. No entanto, seu uso exige atenção redobrada quanto a indicações, contraindicações e riscos de efeitos adversos, sobretudo relacionados à sua metabolização e potencial de dependência.


O que é a codeína e como ela funciona?


A codeína, também conhecida como fosfato de codeína, é um alcaloide natural derivado do ópio, pertencente à classe dos analgésicos opioides fracos. Seu uso é indicado principalmente para o alívio da dor leve a moderada e da tosse seca não produtiva.


No organismo, a codeína é metabolizada no fígado pela enzima CYP2D6, que a converte parcialmente em morfina, substância responsável por grande parte de sua ação terapêutica. No entanto, essa conversão varia significativamente entre os indivíduos, devido a diferenças genéticas na atividade da enzima, o que influencia diretamente a eficácia e o risco de efeitos adversos.


Mecanismo de ação


A codeína atua nos receptores opioides do tipo mu e kappa, localizados no sistema nervoso central (SNC). Ao se ligar a esses receptores:


  • Modula a percepção da dor e reduz a resposta emocional a estímulos dolorosos;
  • Inibe o centro da tosse, localizado no bulbo cerebral, promovendo efeito antitussígeno.


Além da ação analgésica e antitussigena, a codeína pode causar efeitos sedativos e constipação intestinal, características comuns aos opioides.


Codeína xarope: para que serve


O xarope de codeína é um medicamento amplamente utilizado no controle da tosse seca, especialmente quando esta é persistente, irritativa e não produtiva, ou seja, sem produção de secreção brônquica. Além disso, devido às suas propriedades analgésicas, a codeína em forma de xarope pode ser empregada como parte de regimes de tratamento para alívio da dor leve a moderada, frequentemente em associação com outros analgésicos como paracetamol ou dipirona.


Principais indicações do xarope de codeína:


  • Tosse seca persistente e irritativa;
  • Tosse de origem alérgica ou viral sem produção de secreção;
  • Adjuvante no alívio da dor leve a moderada (associado a paracetamol ou dipirona, por exemplo);
  • Situações onde o reflexo da tosse pode comprometer a recuperação pós-operatória (ex: após cirurgias torácicas ou oftálmicas).


Importante: o uso da codeína como antitussígeno deve ser sempre avaliado com cautela, especialmente em crianças, idosos e pacientes com doenças respiratórias crônicas.


Como devo utilizar a Codeína Xarope?


A posologia do xarope de codeína deve ser sempre determinada pelo médico, levando em consideração a gravidade dos sintomas, a resposta clínica do paciente e possíveis comorbidades. Para adultos, a dose usualmente recomendada varia entre 15 mg e 60 mg por via oral a cada 4 a 6 horas, respeitando o limite máximo diário de 360 mg para evitar toxicidade e efeitos adversos.


Na forma de xarope, cada mililitro contém 3 mg de codeína, o que facilita o ajuste da dose conforme a necessidade. A seguir, a equivalência prática entre a dose em miligramas e o volume de xarope a ser administrado:





Duração do Tratamento


A duração do uso do xarope de codeína deve ser adequada à condição clínica do paciente:


  • Dores agudas (ex.: pós-operatórias, processos inflamatórios): o tratamento geralmente é breve, com duração de até 4 dias, a fim de minimizar o risco de dependência e efeitos colaterais.


  • Dores crônicas ou situações específicas que exijam uso prolongado: a administração deve ocorrer sob rigoroso acompanhamento médico, com avaliações periódicas para monitorar eficácia, tolerabilidade e sinais de abuso ou dependência.


Recomendações Importantes


O uso do xarope deve ser acompanhado das orientações sobre evitar a combinação com outros medicamentos que deprimam o sistema nervoso central, como sedativos e álcool, para prevenir riscos de sedação excessiva e depressão respiratória.


Em casos de insuficiência hepática, renal ou em pacientes idosos, a dose deve ser ajustada individualmente, considerando a maior vulnerabilidade a efeitos adversos.


Farmacocinética da Codeína


A codeína apresenta um perfil farmacocinético bem estabelecido, com absorção, metabolismo e eliminação que influenciam diretamente sua eficácia clínica e segurança, especialmente em populações específicas como idosos e pacientes com disfunção hepática ou renal.


Início e Duração da Ação


Após administração oral, a codeína é rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal:


  • Início da ação: entre 30 a 45 minutos, dependendo do estado gástrico e formulação.
  • Pico de ação: ocorre geralmente entre 60 a 120 minutos, quando se atinge a concentração plasmática máxima.
  • Duração do efeito: cerca de 4 horas, o que justifica a posologia habitual de 4 em 4 ou de 6 em 6 horas, conforme prescrição médica.


Meia-vida e Metabolismo


  • A meia-vida plasmática da codeína varia entre 2,5 a 4 horas, podendo ser prolongada em idosos devido à redução da função hepática e renal, o que requer ajustes de dose e intervalo.


  • A codeína é metabolizada principalmente no fígado, por ação das enzimas do citocromo P450, especialmente a CYP2D6, que converte parte da codeína em morfina, responsável por grande parte da atividade analgésica.


  • Outros metabólitos incluem norcodeína e codeína-6-glucuronídeo, que também têm ação farmacológica, embora mais discreta.


Eliminação


  • A eliminação da codeína ocorre predominantemente por via renal, com excreção dos metabólitos e de uma fração da substância inalterada.


  • Cerca de 10% da codeína administrada é eliminada inalterada na urina, o que reforça a necessidade de cautela em pacientes com comprometimento renal.


Quem não pode usar codeína xarope


O uso da codeína está contraindicado em diversas condições clínicas:


Contraindicações absolutas


  • Hipersensibilidade à codeína ou opioides;
  • Depressão respiratória;
  • Crianças menores de 12 anos;
  • Adolescentes menores de 18 anos após cirurgias de amígdalas/adenoides;
  • Pacientes com apneia obstrutiva do sono;
  • Gravidez (categoria de risco C);
  • Lactação (risco de toxicidade ao lactente);
  • Casos de diarreia causada por intoxicação ou colite pseudomembranosa;
  • Insuficiência hepática ou renal grave.


Contraindicações relativas (precaução)


  • DPOC, asma, bronquite crônica;
  • Idosos (risco de retenção urinária e depressão respiratória);
  • Pacientes com histórico de dependência química;
  • Distúrbios convulsivos;
  • Cirurgias recentes no trato gastrointestinal ou urinário.


Efeitos colaterais mais comuns da codeína


Apesar de eficaz, a codeína apresenta efeitos adversos frequentes, especialmente relacionados ao sistema nervoso central e ao trato gastrointestinal.


Reações muito comuns (>10%)


  • Náusea e vômito;
  • Constipação intestinal;
  • Tontura e sedação;
  • Sonolência;
  • Dispneia.


Reações raras e graves


  • Anafilaxia;
  • Hipotensão;
  • Reações psicóticas (ex: delírios e alucinações);
  • Mioclonia, convulsões;
  • Depressão respiratória grave (especialmente em metabolizadores ultrarrápidos de CYP2D6).


Riscos da metabolização ultrarrápida


Alguns indivíduos possuem variação genética que acelera a conversão da codeína em morfina. Esse fenômeno pode provocar intoxicação por morfina, mesmo em doses terapêuticas.


Sinais de alerta:


  • Sonolência extrema;
  • Dificuldade para respirar;
  • Fraqueza e hipotonia em lactentes (em caso de exposição via leite materno).


Nestes casos, o uso deve ser interrompido imediatamente e o paciente avaliado por um profissional de saúde.


Interações medicamentosas


A codeína pode interagir com diversas classes de medicamentos e substâncias, o que pode potencializar seus efeitos ou causar reações indesejadas.


Substâncias que aumentam o risco de depressão do SNC:


  • Álcool;
  • Benzodiazepínicos (ex: diazepam, alprazolam);
  • Antidepressivos tricíclicos;
  • Antihistamínicos sedativos.


Substâncias que reduzem a eficácia:


  • Quinidina (inibe CYP2D6);
  • Ginseng (planta medicinal).


Interações também ocorrem com testes laboratoriais: a metabolização da codeína em morfina pode causar resultado falso-positivo em exames antidoping.


Uso da codeína xarope em grupos especiais


Em crianças


Contraindicado em menores de 12 anos e não recomendado para adolescentes no pós-operatório de adenoidectomia/amidalectomia. O risco de depressão respiratória grave é elevado.


Em idosos


Doses devem ser reduzidas ou espaçadas. Maior risco de efeitos adversos devido à diminuição da função hepática e renal.


Na gravidez e lactação


Não recomendado. Pode causar síndrome de abstinência neonatal, depressão respiratória no recém-nascido e, durante a lactação, toxicidade grave em lactentes.


Codeína causa dependência?


Sim. A codeína possui potencial de causar abuso e dependência, especialmente quando utilizada por longos períodos ou em doses elevadas. A retirada abrupta após uso prolongado pode provocar sintomas de abstinência como:


  • Ansiedade;
  • Tremores;
  • Sudorese;
  • Irritabilidade;
  • Insônia.


Superdosagem: o que fazer?


A superdose de codeína pode causar:


  • Depressão respiratória grave;
  • Confusão mental;
  • Sonolência excessiva;
  • Náusea, vômito;
  • Coceira e rash cutâneo.


H3: Conduta


  • Acesso imediato a suporte ventilatório;
  • Uso de antídoto (naloxona IV: 0,4 a 2 mg, com repetição se necessário);
  • Lavagem gástrica em casos recentes de ingestão oral.


Armazenamento e validade


  • Temperatura entre 15 °C e 30 °C;
  • Embalagem fechada e protegida da luz;
  • Após aberto, o xarope deve ser consumido em até 20 dias;
  • Manter fora do alcance de crianças.


Uso racional da codeína em xarope


O xarope de codeína é uma ferramenta eficaz no controle da dor leve a moderada e da tosse seca resistente, mas seu uso exige critério. A individualização da dose, avaliação de fatores genéticos, precauções em populações especiais e conhecimento sobre possíveis interações são fundamentais para garantir segurança e eficácia.


A automedicação com codeína é contraindicada. Sempre utilize o medicamento com prescrição e acompanhamento profissional.


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