Pomada de lidocaína usada como anestésico local em procedimentos médicos e odontológicos

Lidocaína: como age o anestésico mais usado na medicina

Além de promover anestesia local e regional, esse medicamento também tem papel importante no controle da dor pós-operatória, em arritmias cardíacas e até em procedimentos dermatológicos e estéticos.


A lidocaína é um dos anestésicos locais mais utilizados na prática clínica e hospitalar, conhecida por sua ação rápida, versatilidade e segurança. Além de promover anestesia local e regional, esse medicamento também tem papel importante no controle da dor pós-operatória, em arritmias cardíacas e até em procedimentos dermatológicos e estéticos.

Neste conteúdo, você vai entender como a lidocaína age no organismo, para que serve, quais as apresentações disponíveis e como utilizá-la com segurança.

O que é a lidocaína?


A lidocaína é um anestésico local amplamente utilizado por profissionais da saúde para promover a perda temporária da sensibilidade em uma região específica do corpo. Pertencente à classe das aminoamidas, ela apresenta ação rápida e boa tolerância, o que a torna uma escolha segura e eficaz em diversos procedimentos.

Desenvolvida na década de 1940, a lidocaína está disponível em diferentes formas farmacêuticas, como pomada, gel, spray, solução injetável e adesivo, e é indicada tanto para alívio da dor quanto para procedimentos médicos e odontológicos. Seu início de ação rápido ocorre porque parte da substância é capaz de atravessar com facilidade as membranas das células nervosas, bloqueando a condução dos estímulos dolorosos.

Para que serve a lidocaína?


A lidocaína é indicada em uma variedade de procedimentos e tratamentos. Suas principais aplicações incluem:

  • Anestesia local e regional: em cirurgias, suturas, extrações dentárias, partos e biópsias.

  • Controle da dor: em bloqueios anestésicos, pós-operatórios e em casos de dor neuropática.

  • Uso dermatológico e estético: como depilação a laser, tatuagens, queimaduras solares, herpes zoster ou labial, fissuras anais e rachaduras nos seios.

  • Procedimentos médicos diversos: como cistoscopia, endoscopia, introdução de sonda vesical e punções.

  • Tratamento de arritmias cardíacas: especialmente em emergências como infarto agudo do miocárdio e taquiarritmias ventriculares.

  • Também pode ser utilizada para dor causada por cistite ou uretrite.


Como a lidocaína funciona no organismo?


A lidocaína atua bloqueando os canais de sódio voltagem-dependentes (Nav) presentes nas membranas das células nervosas. Esses canais são essenciais para a condução do impulso elétrico ao longo dos neurônios. Ao inibir sua ação, a lidocaína interrompe a propagação do sinal nervoso e, com isso, impede a sensação de dor.

O bloqueio das fibras nervosas ocorre de forma sequencial, seguindo esta ordem: dor → temperatura → tato → pressão → função motora. Isso significa que a anestesia começa com a supressão da dor e, dependendo da dose e da concentração, pode afetar também as demais funções sensoriais e motoras locais.

Efeitos adicionais da lidocaína


  • Ação anti-inflamatória: ajuda na redução da liberação de citocinas e da ativação de neutrófilos.
  • Ação antiarrítmica: estabiliza a membrana das células cardíacas, sendo útil em arritmias ventriculares.
  • Antagonismo aos receptores NMDA: contribui no controle de dores crônicas ou de difícil manejo, como as de origem neuropática ou mista.


Vale destacar que a eficácia da lidocaína é reduzida em tecidos inflamados. Isso ocorre porque o pH mais ácido no local inflamado diminui a fração da droga em forma neutra, dificultando sua entrada nos neurônios. Além disso, o aumento do fluxo sanguíneo local pode acelerar sua remoção da área de ação.


Farmacocinética da lidocaína


Absorção:

  • Início de ação intravenosa: imediato
  • Início de ação tópica: 30 segundos a 5 minutos
  • Absorção tópica varia conforme concentração, área e duração da aplicação


Distribuição:

  • Ligação proteica: 65% (albumina e α1-glicoproteína ácida)
  • Volume de distribuição: 0,7 a 1,5 L/kg

Metabolismo:

  • Hepático (CYP1A2 e CYP3A4)
  • Metabólitos ativos: monoetilglicilxilidida (MEGX) e glicilxilidida (GX)

Eliminação:
  • Meia-vida: 1,5 a 2 horas
  • 90% excretado na urina
  • Meia-vida prolongada em pacientes com insuficiência cardíaca ou hepática


Como usar a lidocaína com segurança?


O uso da lidocaína deve sempre seguir a orientação médica, pois sua aplicação requer atenção quanto à dose, forma farmacêutica e local de aplicação para garantir eficácia e minimizar riscos.

Formas de apresentação e indicações principais:


Pomada (50 mg/g)

Aplicada topicamente na pele ou mucosas para anestesia local, como em rachaduras nos seios, fissuras anais ou alívio da dor causada por queimaduras solares e herpes. Deve-se usar a menor quantidade necessária e evitar cobrir a área, salvo indicação médica. Em procedimentos médicos, geralmente aplicada por profissionais da saúde.

Pomada sabor laranja (50 mg/g)

É utilizada por dentistas para anestesiar a gengiva antes de procedimentos odontológicos, sendo aplicada diretamente na mucosa oral.

Usado em ambiente hospitalar ou clínico para anestesia tópica das vias aéreas ou mucosas, sendo aplicado apenas por profissionais habilitados.

Injetável

É usada em bloqueios nervosos, anestesia peridural e infiltrativa, administrada exclusivamente por médicos ou enfermeiros treinados em ambiente hospitalar ou clínico.

Cuidados importantes:


  • Nunca ultrapassar a dose máxima recomendada pelo médico para evitar toxicidade.
  • Evitar aplicação em grandes áreas ou feridas extensas sem orientação especializada.
  • Crianças menores de 5 anos geralmente não devem usar pomadas ou sprays com lidocaína, salvo orientação médica rigorosa.
  • Grávidas, lactantes e pessoas com problemas cardíacos, hepáticos ou epilépticos devem informar o médico antes do uso.
  • Observar sinais de alergia ou efeitos colaterais e comunicar imediatamente o profissional de saúde.

Efeitos colaterais e toxicidade


Os efeitos colaterais mais comuns da lidocaína incluem irritação local, sensação de queimação ou formigamento, inchaço e vermelhidão no local de aplicação. Em casos mais graves, pode haver efeitos sistêmicos como tontura, sonolência, visão turva, convulsões, arritmias cardíacas e até parada respiratória.

A toxicidade da lidocaína está relacionada à concentração plasmática da substância. Sintomas leves podem surgir com níveis acima de 5 µg/mL, incluindo zumbido, parestesias e confusão mental. Acima de 10 µg/mL, o risco de convulsões e perda de consciência aumenta. A partir de 20 µg/mL, pode haver depressão do sistema nervoso central e colapso cardiovascular.

Em caso de superdosagem, a administração deve ser interrompida imediatamente. O tratamento inclui suporte das vias aéreas, monitoramento contínuo, infusão de emulsão lipídica intravenosa e medidas de suporte cardiovascular.

Interações medicamentosas


A lidocaína pode interagir com diversos medicamentos, incluindo:
  • Betabloqueadores (ex: propranolol): aumentam a concentração sérica de lidocaína.
  • Antidepressivos como fluvoxamina: inibem o metabolismo hepático da lidocaína.
  • Outros anestésicos locais: podem aumentar o risco de meta-hemoglobinemia.
  • Digitálicos ou pacientes com bloqueio atrioventricular: exigem cautela.

Contraindicações e precauções


A lidocaína é contraindicada para pacientes com hipersensibilidade ao princípio ativo ou a outras substâncias da fórmula. Deve ser usada com cautela em:
  • Crianças menores de 3 anos (risco de eventos adversos graves)
  • Pacientes com insuficiência hepática ou cardíaca
  • Pacientes com histórico de convulsões ou epilepsia
  • Gravidez e amamentação (uso apenas com avaliação médica)

Considerações especiais por população


  • Idosos: recomenda-se utilizar a menor dose eficaz possível, com monitoramento rigoroso, devido ao maior risco de toxicidade sistêmica.

  • Gestantes e lactantes: a lidocaína é considerada segura em doses terapêuticas locais. Não há evidências de efeitos adversos para o feto ou para o lactente, desde que usada conforme orientação médica.

  • Pacientes pediátricos: exigem cálculo de dose rigoroso com base no peso corporal e idade. Em neonatos e lactentes, a meia-vida da lidocaína é prolongada e há maior risco de acúmulo. A aplicação tópica ou infusões devem seguir protocolos específicos para evitar toxicidade.

A lidocaína é uma substância amplamente utilizada por profissionais da saúde, com papel fundamental em anestesia local e no controle da dor. Seu uso seguro depende do conhecimento técnico, da escolha da apresentação correta e do monitoramento clínico. Em caso de dúvida, a orientação de um profissional habilitado é indispensável.


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